domingo, 12 de maio de 2013

tam 3054

Multada TAM por demorar com lista de vítimas do voo 3054

A 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou a TAM a pagar uma multa de R$ 250 mil pelo atraso de quatro horas na divulgação da lista das vítimas do voo 3054, no acidente em 17 de julho de 2007, em São Paulo. A decisão, tomada em 27 de março e divulgada na quinta-feira (11), negou recursos da companhia aérea contra a sentença de primeiro grau.

A empresa queria a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor para o caso e a suspensão da exigibilidade do pagamento, e pelo Estado, que tentava manter a multa inicial, estabelecida pelo Procon, de R$ 971 mil. O valor estabelecido deve ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor. As partes ainda podem recorrer.

O avião, que havia saído de Porto Alegre, não parou na pista do Aeroporto de Congonhas e explodiu ao bater em um prédio da própria TAM, em São Paulo, às 18h51min. As 187 pessoas que estavam a bordo e outras 12 em terra morreram. Pouco depois das 19 horas, familiares exigiam a lista dos passageiros nos balcões da empresa em Porto Alegre e São Paulo. Instruções de Aviação Civil indicam que, nesses casos, a empresa deve confeccionar a lista em três horas para seu uso e para a autoridade aeronáutica, caso esta a solicite. A relação foi divulgada aos familiares durante a madrugada do dia 18.

O Procon do Rio Grande do Sul aplicou a multa de R$ 971 mil por entender que o atraso violou dispositivos do Código de Defesa do Consumidor. A empresa alegou que não havia relação de consumo com os familiares das vítimas e que a demora deveu-se à necessidade de obter informações precisas e contestou a multa.

A juíza de Direito Mara Lúcia Coccaro Martins, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, concordou com os argumentos do Procon, mas considerou a multa elevada e reduziu o valor para R$ 100 mil. O caso foi levado ao Tribunal de Justiça, que manteve a penalidade aumentando seu valor para R$ 250 mil.

Memorial dos mortos da TAM está abandonado

Criada para homenagear as vítimas do voo 3054, a praça está sem iluminação, com rachaduras e suja 

Pais da comissária Madalena se revezam entre para cuidar da praça

Pouco mais de seis meses após a inauguração da Praça Memorial 17 de Julho, construída em frente ao Aeroporto de Congonhas em homenagem às 199 vítimas do voo 3054 da TAM, em 2007, o local batizado de solo sagrado pelas famílias dos mortos está sem iluminação, com rachaduras no anel de concreto da fonte, mato por cortar e repleto de sujeira.

“Outro dia tinha até casca de abacaxi e pontas de cigarro na água”, lamenta o comerciante José Roberto Silva, pai da comissária Madalena Silva, de 20 anos, que estava entre os mortos. Ele e a mulher, Therezinha, se dividem entre Porto Alegre e São Paulo apenas para cuidar da manutenção da praça com dinheiro do próprio bolso.

“A decisão foi nossa. Gastamos cerca de R$ 1,8 mil por mês na limpeza”, diz Roberto. Segundo ele, das 300 lâmpadas da praça, apenas duas acendem. “Está escuro há um mês. Eu compro as lâmpadas, mas tem de mexer na parte elétrica e não sei fazer esse serviço”, afirma.

Roberto conta que várias empresas se ofereceram para cuidar da praça, mas, na hora de contribuir com o dinheiro, todas somem. “Já coleciono 19 cartões de firmas”, ironiza.

Em nota, a Subprefeitura Santo Amaro diz que faz a varrição diariamente e a lavagem quando necessário. Mas promete reforçar os serviços a partir desta segunda-feira. Sobre iluminação e rachaduras, afirma que vai acionar a empresa responsável pela obra para os reparos.

‘Não passo um dia sem saudade da minha filha’

José Roberto Silva diz que, apesar de ter se passado cinco anos e meio do acidente, para ele parece que a tragédia com o voo da TAM aconteceu ontem. “Não passo um dia sem sentir saudade da minha filha. Quando acordo, falo bom-dia para a filha que ficou (Suelem, de 22 anos) e vou à sacada cumprimentar a Madalena (a que morreu)”, conta. A comissária morava com a família em Porto Alegre e não precisava ter vindo a São Paulo naquele dia, mas como tinha de se apresentar à chefia na manhã seguinte, ficou com medo de se atrasar devido a nevoeiros. Por isso, pegou o voo 3054.

“Infelizmente, o dinheiro sempre fala mais alto. Quando acontece uma tragédia, a gente sempre ouve falar que aquilo não pode se repetir, mas sempre se repete por causa disso”, lamenta o pai. José Roberto fez 32 camisetas com a foto da filha, uma para cada dia. “Para mim, cuidar da praça ajuda a extravasar a dor. Já minha mulher se doa 100% como voluntária da Cruz Vermelha.”

Justiça Federal marcou audiência de instrução e julgamento

Praça em homenagem as vítimas foi inaugurada em julho deste ano

Os três acusados pelo acidente com o avião da TAM, no aeroporto de Guarulhos, que resultou na morte de 199 pessoas em julho de 2006 serão julgados em agosto de 2013. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (29) pelo Ministério Público Federal.

Serão julgados a ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise Maria Ayres Abreu; o vice-presidente de Operações da TAM, Alberto Fajerman; e o diretor de segurança de voo da companhia, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro.

De acordo com o MPF, eles foram denunciados pelo Ministério Público Federal em São Paulo em julho de 2011 e respondem pelo crime de “atentado contra a segurança de transporte aéreo” sem intenção.

O juiz federal da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo responsável pelo processo marcou a audiência de instrução com oitiva de testemunhas e o julgamento para agosto do próximo ano. Segundo ele, a sentença poderá ser dada no mesmo mês.

A denúncia do MPF, de autoria do procurador da República Rodrigo de Grandis, foi recebida pela Justiça em julho de 2011.Os réus foram intimados a apresentar defesa prévia. De acordo com a lei, nessa fase do processo e a partir da análise das defesas prévias, a Justiça poderia absolver sumariamente os acusados caso estivesse convencida de que não houve crime.

Mas não foi esse o entendimento do juiz. De acordo com ele, ainda em seu despacho, “as alegações contidas nas respostas à acusação são incapazes de ensejar as absolvições sumárias dos acusados. 

Acidente

Marcado como a maior tragédia da história da aviação brasileira, o acidente com o avião A320 da TAM completou cinco anos neste ano. As 199 pessoas que morreram foram homenageadas com a inauguração de um memorial em frente ao aeroporto de Congonhas, na zona sul, onde a aeronave pegou fogo depois de bater contra um prédio.


O avião saiu de Porto Alegre (RS) e pousou no aeroporto paulista no início da noite do dia 17 de julho de 2007. Chovia e, de acordo com as investigações, um dos freios estava em posição incorreta. Os pilotos não conseguiram parar o Airbus, que atravessou a avenida Washington Luis e foi bater em um galpão.

Após 5 anos, processo aguarda decisão de juiz da Justiça Federal.

Missa lembrou vítimas do acidente no Memorial 17 de Julho, inaugurado nesta terça-feira, no local onde avião explodiu.


Nesta terça-feira, 17 de julho, o acidente do voo 3054 completou cinco anos. 199 pessoas morreram quando o Airbus da TAM cruzou a pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e foi bater em um prédio da companhia. 

Choveu nesta terça-feira em São Paulo, assim como no dia da tragédia. Uma missa lembrou as vítimas do acidente no Memorial 17 de Julho, inaugurado nesta terça-feira, no local onde o avião explodiu. Quando faltavam nove minutos para as 19h, hora da explosão, houve um minuto de silêncio.

Durante a cerimônia ficaram acesos no chão 199 pontos de luz. Eles vão lembrar cada uma das pessoas que perderam a vida no acidente. Os parentes das vítimas, que esperaram tanto tempo pelo memorial, chegaram cedo ao local. 

No centro da praça uma amoreira, que sobreviveu ao desastre, e os nomes das vítimas. Uma delas foi a filha de Dario Scott, que tinha 14 anos. 

“A gente consegue se recuperar, se reerguer e buscar que a gente tenha cada vez um país melhor, um sistema de transporte aéreo mais seguro. O que a gente vem lutando todo esse tempo e sempre relembrando as vítimas dessa tragédia”, diz ele. 

Há cinco anos, o voo 3054 partiu de Porto Alegre com destino a Congonhas. Durante o pouso, o avião atravessou a pista, bateu em um prédio da TAM e explodiu. 

Nesta terça-feira, parentes das vítimas protestaram nos aeroportos de Congonhas e de Porto Alegre. Eles pediram mais segurança na aviação brasileira e punição dos culpados pelo acidente. 

A comerciante Sabrina Bianchi veio do Rio de Janeiro para homenagear a irmã, Nadia, que morreu aos 32 anos. 

“A gente está aqui para que outras tragédias anunciadas não ocorram mais. Porque a gente sabe que essa tragédia poderia ter sido evitada, porque foi prevista”, defende ela. 

As investigações revelaram que contribuíram para o acidente a falta de grooving, ranhuras na pista que aumentam o atrito, e a falta de áreas de segurança na cabeceira. Mas a Policia Federal concluiu que foi determinante a operação incorreta das manetes pelos pilotos.

O Jornal Nacional revelou com exclusividade que parte do sistema de freios estava desativada. O reverso da turbina direita estava travado e permaneceu em posição de aceleração durante o pouso. Os pilotos aumentaram a pressão nos pedais de freio, mas não conseguiram parar o avião. 

Faz um ano que o Ministério Público Federal responsabilizou três pessoas pela tragédia. A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, o ex-diretor da TAM Marco Aurélio Castro e o ex-vice presidente da empresa Alberto Fajerman foram denunciados por atentado contra a segurança da aviação. O processo aguarda decisão de um juiz da Justiça Federal. 

A TAM informou que 193 das 199 famílias das vítimas fecharam acordo de indenização.

“Estivemos de preto e é a primeira vez que eu venho de branco. É um momento que a gente começa a sentir um pouquinho de paz, mas ao mesmo tempo muita saudade. Então é um momento muito especial para gente”, declara a administradora Sílvia Masseran Xavier. 

O advogado da ex-diretora da Anac declarou que Denise Abreu não tem responsabilidade pelo acidente porque o trabalho dela era jurídico, sem relação com segurança de voo. O advogado de Marco Aurélio Castro e Alberto Fajerman, ex-funcionários da TAM, afirma que faltam elementos no inquérito que sustentem a acusação contra os clientes dele. 


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Santos lembra que aviação é complexa e precisa de cuidados; operações em Congonhas aumentaram este ano durante os finais de semana 


O maior acidente aéreo do país, em julho de 2007, motivou mudanças na aviação brasileira. De acordo com o especialista em segurança de voo Aurélio dos Santos, embora este tipo de transporte seja de muita complexidade, é o mais seguro do mundo. 

"O transporte aéreo é 19 vezes mais seguro que o terrestre", diz Santos. Segundo ele, o fato de não ter ocorrido mais acidentes similares ao da TAM já revela que não é preciso ter medo ao entrar em uma aeronave. 

Segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o aeroporto de Congonhas - local onde tentou pousar o Airbus da TAM, matando 199 pessoas depois de explodir contra o prédio da própria companhia - fez todas as modificações necessárias após a tragédia. 

Veja o que mudou no aeroporto de Congonhas após acidente com o Voo JJ3054 da TAM:

- Entre as modificações está a diminuição de 38 para 30 slots (autorizações de pousos e decolagens) por hora;

- Determinação de 4 slots para a aviação geral em Congonhas, que antes eram slots de oportunidade, ou seja, sem limite definido; 

- Implantação de nova malha aérea, organizando as rotas e horários de voos definidos pelas empresas. Em dezembro de 2007 eram 1.953 frequências semanais no Aeroporto de Congonhas. Hoje são 1.624 frequências semanais; 

- Intensificação da fiscalização operacional nas companhias aéreas; 

- Publicação da IAC (Instrução de Aviação Civil), que determina os procedimentos e requisitos técnico-operacionais complementares para a operação no Aeroporto de Congonhas, no site do órgão [em .pdf];  

- Implantação do grooving (ranhura) na pista de pouso e decolagem;

- Segundo a Anac, quanto à “área de escape”, Congonhas encontra-se em conformidade com todos os regulamentos previstos.

Aumento de pousos e decolagens

Em abril deste ano, a Anac anunciou um aumento de 119 autorizações de pousos e decolagens para os finais de semana em Congonhas. O órgão afirma que o acréscimo está dentro do número de slots permitido.  

Aurélio dos Santos acredita que esse crescimento gera insegurança. Mas, independentemente das mudanças no aumento do trabalho em Congonhas, é importante que haja uma série de cuidados para que o país continue sem grandes acidentes aéreos, como o de julho de 2007. Ele mencionou quatro deles, que julga serem os mais importantes: 

- Treinamento de qualidade para a tripulação;

- Manutenção das aeronaves;

- Fiscalização eficiente;

- Manual com orientações mais claras. 


"Foi a ocorrência mais importante da minha vida", diz cabo que participou do resgate há cinco anos


O trabalho de resgate varou a madrugada toda. Centenas de bombeiros de diversas unidades de São Paulo foram encaminhados para atender uma única ocorrência naquele dia. Um avião da TAM, que viajava de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para São Paulo, explodiu após colidir com um prédio da própria companhia. Ao todo, 199 pessoas morreram. Personagem importante na tragédia, o bombeiro Fábio Eduardo viu tudo de perto. 

"Foi a ocorrência mais importante da minha vida", afirma o cabo da corporação. De acordo com ele, as imagens eram de surpreender. "Participei do resgate dos corpos, quando o fogo já havia sido controlado. Centenas deles estavam mutilados". 

Não havia esperança de encontrar sobreviventes

O trabalho de bombeiro, em muitos casos, exige frieza. E, neste dia, não foi diferente com Fábio. "Na hora, eu não me emocionei. Estava focado em encontrar os corpos, muitas vezes separados por partes mesmo", relata. Segundo ele, as vítimas estavam bem presas às ferragens. 

Sabendo do tamanho da tragédia, o cabo não esperava encontrar vida no local. "Não tínhamos mais esperança. A explosão e o incêndio carbonizaram todos os passageiros". 

Valorização à família

Depois de horas e horas seguidas de trabalho e uma exploração árdua do espaço onde aconteceu o acidente, o bombeiro diz ter se emocionado. "Contar para os familiares e amigos como tudo aconteceu faz a gente ficar triste e repensar na vida". 

"Profissionalmente esse caso me marcou muito. Meus companheiros de trabalho e eu nos focamos para fazer o melhor que podíamos. Mas, depois, paramos para pensar no valor que damos à vida. A nossa e a dos nossos amigos e familiares", completa.

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Acidente TAM: denúncia do MPF é uma “vitória  MPF denuncia três pessoas por acidente da TAM 
Voo 3054 causou ´dança das cadeiras´ em Brasília e mudanças na malha aérea
Processo da TAM está parado na Justiça 



Amoreira que sobreviveu ao acidente de 2007 no centro do Memorial 17 de julho, na zona sul

“Foi uma longa caminhada com nossas bandeiras. Assim como minha filha, outros 198 morreram nessa tragédia. Nossos filhos foram cremados aqui. Esse lugar é santo”, disse emocionada Silvia Xavier, mãe de Paula Masseran de Arruda Xavier, de 23, em entrevista ao iG na segunda-feira. 

No dia do acidente, Paula retornava de Gramado, no Rio Grande do Sul, com o namorado Lucas Mattedi. Nos destroços, foi localizado o cartão de memória da máquina fotográfica deles com mais de 160 fotos. O enterro de Paula foi realizado na zona sul da capital no dia em que completaria 24 anos. 

Archelau Xavier, marido de Silvia e pai de Paula, considera a Afavitam uma das mais sólidas associações de familiares em casos de morte coletiva e um importante escape para os parentes ‘conviverem’ com a perda de pais, filhos e até famílias inteiras. Como exemplo, ele cita a própria mulher que, desde a fundação do grupo, é responsável pelos encontros, realizados mensalmente em São Paulo, Brasília ou Porto Alegre. 

“Nunca vou conseguir acostumar com a ideia que perdi minha filha. Mas ganhei novos filhos e uma família (sobre os mais de 400 associados). Trabalho para que eles não sejam esquecidos.” Com uma iluminação especial, o memorial conta com 199 estrelas que representam as vítimas e iluminam a amoreira que sobreviveu ao choque da aeronave, incêndio e a implosão dos edifícios. “A praça será um lugar vivo, apesar de todas as mortes. A amoreira representa isso.” 

Sempre presente e acompanhando os trabalhos dos operários no memorial, Silvia revelou que não se permitiu ver o local completamente iluminado. “Quero ser surpreendida assim como todos os outros familiares. Vamos compartilhar a sensação de ver cada familiar querido ali, representado por uma estrela.” 

Dor que não cicatriza

Outro membro ativo da associação é Roberto Gomes. Jornalista, ele assumiu o trabalho de assessoria de imprensa do grupo como uma missão após perder seu irmão caçula, Mario Gomes, e mais quatro amigos no acidente. “O impacto foi terrível. Tomei remédios diariamente por mais de três anos para conseguir acordar e trabalhar. Se eu falar que após esse período estou melhor, estaria mentido. É uma dor que não cicatriza.” 

Mário era um empresário em Porto Alegre e, dois dias antes do acidente, havia comunicado o desejo de mudar para São Paulo, onde possuía um escritório. “Ele viajava para São Paulo pelo menos duas vezes por semana. Como já estava cansado, queria mudar definitivamente para lá. E, infelizmente, foi lá que ele ficou”, disse. 

Gomes ainda vive na capital gaúcha e não teve oportunidade de visitar as obras do memorial. “Sei que vou me emocionar. Depois de cinco anos é a primeira vez que ficaremos todos reunidos de novo. Todos os sete irmãos”. Para o jornalista, a conclusão do espaço é uma “vitória da sociedade civil já que a TAM tentou de tudo para inviabilizar o projeto”. “Agora lutamos pela condenação dos já indiciados como responsáveis pelo acidente.” 

No dia 11 de julho do ano passado, o procurador Rodrigo De Grandis, do Ministério Público Federal de São Paulo, denunciou três pessoas por “atentado contra a segurança da aviação”, encerrando uma etapa do processo de investigação criminal iniciado em 2007. A denúncia foi acolhida pela 8ª Vara Federal quatro dias depois.


Cinco anos após o acidente com o voo JJ3054 da TAM, que matou 199 pessoas, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, segue operando "nos seus limites" e "continua sendo um aeroporto crítico" na opinião do diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas Carlos Camacho. Para ele, as mudanças aplicadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foram insuficientes para eliminar a possibilidade de uma nova tragédia, embora reconheça que houve melhora na pista e que as medidas foram acertadas. Camacho critica, por exemplo, que as operações sigam ocorrendo em dias de chuva: "choveu, deveria parar".

Uma das 33 recomendações do relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre o acidente, das quais a Anac afirma ter acatado 30, foi justamente "restringir, de imediato, a operação da pista principal à condição de 'pista seca'". A Agência diz que ela foi cumprida com a instalação do grooving (ranhuras para facilitar o escoamento), que impede a formação de lâminas d'água na pista. Hoje, o aeroporto só fecha sob chuva forte que provoque acúmulo de água e prejudique a visibilidade.

A pista escorregadia e o excesso de voos foram apontados pelo relatório do Cenipa como fatores que colaboraram - junto com o fato de uma das manetes que controlam as turbinas estar na posição para acelerar, o que provocou falta de freios - para que o Airbus A320 cruzasse a pista principal e colidisse com o prédio de um depósito de cargas da própria TAM no dia 17 de julho de 2007.

Além do grooving nas duas pistas, operacionalmente, o terminal reduziu o número de autorizações para pousos e decolagens de 38 para 30 por hora. O engenheiro aeronáutico Jorge Eduardo Medeiros, professor de aeroportos e transportes aéreos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), avalia como positivas as alterações. "O acidente da TAM seria evitado se, antes, fossem adotados em Congonhas os mesmos procedimentos do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro", argumenta. No terminal carioca, é proibido o pouso de aeronaves com o motor pinado (sem o reversor, item de segurança adicional que gera desaceleração e ajuda na frenagem), como aconteceu com o Airbus A320 da TAM. Essa proibição só foi adotada em Congonhas após o acidente.

De acordo com a Anac, as mudanças aplicadas seguem até hoje, como, por exemplo, a proibição de pousos e decolagens de aeronaves com o motor pinado e com os spoilers (equipamento instalado sobre as asas e que ajuda na frenagem) inoperantes. "Spoilers nada!", disse, segundos antes do choque, o copiloto do voo da TAM, conforme revelaram os áudios das caixas-pretas.

Dados disponibilizados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) mostram que o aeroporto de Congonhas recebeu, em 2003, mais de 220 mil aeronaves e passaram por seus corredores 12 milhões de passageiros. Em 2007, ano do acidente da TAM, foram 205 mil aviões e 15 milhões de usuários. Com a redução do número de autorizações para pousos e decolagens adotada pela Anac após a tragédia, em 2008, o número de aeronaves caiu para 186 mil e o de passageiros, para 12 milhões. Nos anos seguintes, os números voltaram a crescer e, em 2011, Congonhas recebeu mais aeronaves (209 mil) e mais passageiros (16 milhões) do que no ano do acidente. Até maio deste ano, no entanto, os volumes são menores do que o registrado no mesmo período de 2007.

Através da assessoria, a Anac informou que a movimentação no aeroporto não é aferida pelo número de passageiros transportados, "pois isso pode mudar com o aumento da taxa de ocupação das aeronaves ou pela troca por aviões com mais assentos", nem pelo número voos. De acordo com a Agência, a movimentação é monitorada pela quantidade de autorizações para pousos e decolagens, reduzidas após o acidente. "Em dezembro de 2007, eram 1.953 frequências semanais no aeroporto de Congonhas. Hoje temos 1.624", informou a Anac.

Mudanças na pista

Cercado pela cidade, o aeroporto de Congonhas não tem mais para onde crescer. A pista principal termina a poucos metros da avenida Washington Luís, o que impossibilita a criação de uma área de escape maior. Para o diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, "se o acidente tivesse ocorrido em Guarulhos, por exemplo, o avião teria sido danificado, mas provavelmente não haveria mortes". Camacho defende a colocação de um concreto poroso nas extremidades e nas laterais, o que criaria maior resistência se a aeronave saísse da pista.

A Anac diz que o aeroporto está "em conformidade com o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil" quanto à área de escape e que "esse incremento de segurança foi criado por meio do recuo das distâncias declaradas". Segundo o engenheiro aeronáutico Jorge Eduardo Medeiros, "a diminuição do comprimento declarado da pista aumentou a área de escape" e, com isso, houve um ganho na segurança.

O acidente com o voo JJ3054 ocorreu em julho, antes do final das obras de recuperação das pistas do aeroporto de Congonhas, finalizadas em setembro de 2007. De acordo com a Infraero, nos últimos cinco anos não foram necessárias novas modificações. A Infraero afirma que acatou as 13 recomendações do relatório do Cenipa, entre elas, a de executar uma vez por semana a verificação das condições de desgaste da pista.

Outros incidentes

No dia que antecedeu a tragédia com o voo da TAM, foram feitos 10 reportes de que a pista do aeroporto de Congonhas apresentava hidroplanagem e estava escorregadia, segundo o relatório elaborado pelo Cenipa. No mesmo dia, um avião da companhia aérea Pantanal derrapou e saiu da pista imediatamente após o toque do trem de pouso dianteiro no solo. Um ano antes, uma aeronave da BRA teve problema parecido. "Foi um aviso, naquele momento deveriam ter sido tomadas providências", defender o comandante Carlos Camacho.

Apesar de todas as medidas logo após a destruição do Airbus A320, pequenos incidentes continuaram sendo registrados. No dia 24 de junho, uma semana depois do acidente, dois aviões se chocaram enquanto manobravam na pista. Em setembro de 2008, um bimotor derrapou e por pouco não caiu na avenida Washington Luíz, quase no mesmo local onde o avião da TAM saiu da pista. Em fevereiro deste ano, um pneu de um avião da Gol estourou durante o pouso.

Procurada, a Infraero informou que ocorrências como essas são informadas pelo piloto à torre de controle e inseridas em um relatório entregue à companhia aérea, que encaminha para o Cenipa. Um levantamento oficial de incidentes ocorridos após o dia 17 de julho de 2007 foi solicitado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, em Brasília, mas até o final da tarde desta segunda-feira não havia sido divulgado.

"Congonhas, nunca mais"

Para alguns familiares das 199 vítimas, parece não importar quantas mudanças sejam feitas no aeroporto. O trauma de perder uma filha de 14 anos fez o gaúcho Dário Scott, que preside a associação criada pelos parentes das vítimas do voo JJ3054 para acompanhar as investigações, abdicar do conforto de desembarcar em um aeroporto bem localizado nas frequentes viagens que faz a São Paulo. "Eu só vou lá para manifestações. Nunca mais desci nem decolei daquele aeroporto", desabafa. "Congonhas, nunca mais!".


Há cinco anos atrás, São Paulo vivia uma tragédia. Um avião da TAM saiu da pista de Congonhas e bateu num prédio de cargas da companhia aérea.


Cento e noventa e nove pessoas morreram. Para homenagear as vítimas, uma praça com um memorial está sendo inaugurada nesta terça-feira (17).
Márcia Soares Leite, mãe da comissária Michele Leite, que não teve o corpo identificado até hoje, explica que a luta das famílias das vítimas é por maior segurança nos aeroportos. Mas lamenta: “Vejo esse aeroporto funcionando com uma precariedade muito grande.
A sensação é que a qualquer momento pode ocorrer um novo acidente, até pior”. Para ela, a luta ainda está no começo. “Sabemos que foi uma tragédia anunciada. Acreditamos em condenação dos réus. Espero que a justiça seja feita”, diz Márcia.

Praça 17 de Julho será inaugurada na terça em homenagem às vítimas.


Aeronautas dizem que houve evolução na segurança, mas insuficientes.


Memorial será inaugurado nesta terça-feira, aniversário de 5 anos da tragédia Cinco anos depois do acidente com o voo TAM JJ3054, as 199 vítimas da tragédia serão homenageadas com a inauguração, na terça-feira (17), da Praça Memorial 17 de Julho, no Campo Belo, Zona Sul de São Paulox. O marco foi erguido no terreno da TAM Express, onde ficava o depósito de cargas da empresa atingido pela aeronave. 

No dia 17 de julho daquele ano, um Airbus A320 da TAM, que vinha de Porto Alegre rumo a Congonhas, ultrapassou o fim da pista ao tentar pousar e bateu contra o prédio, localizado próximo à cabeceira da pista. Estavam no avião 187 pessoas. Não houve sobreviventes. Outras 12 pessoas morreram em solo. 


O memorial no local do acidente se torna o marco mais evidente da tragédia. Criado pela Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ3054 (Afavitam) em parceria com a Prefeitura de São Paulo, o espaço pretende ser uma área de lazer e convivência, construído no terreno em que ficava o prédio da TAM Express, destruído com a colisão da aeronave.

Clique aqui e veja fotos do Memorial (1).

Clique aqui e veja fotos do Memorial (2).

De acordo com a Prefeitura, a construção da praça começou em dezembro de 2011 com a demolição do antigo edifício da TAM e a terraplanagem da área, na Avenida Washington Luís. 

Além da construção da praça, foi mantida no local uma amoreira que resistiu à colisão do avião. A árvore se tornou, para amigos e familiares das vítimas, um símbolo de sobrevivência e recomeço e ficará no centro da praça. 

“Para nós aquele é um terreno sagrado. Quando o IML [Instituto Médico-Legal] identificou minha filha, fiz questão de ver quais partes dela haviam sido identificadas. Ela poderia ter sido enterrada em uma caixa de sapatos, porque não tínhamos a identificação de todos os fragmentos dela. Então, para mim, a maior parte da minha filha ficou naquele terreno”, afirmou ao G1 Dario Scott, presidente da Afavitam e pai de Thaís Volpi Scott, 14 anos, passageira do voo. 

O projeto do Memorial também prevê um espelho d’água onde os nomes das vítimas serão gravados, além de 199 pontos de luz instalados no chão, que serão acesos durante a noite para simbolizar cada vítima do acidente. 


Em Porto Alegre, familiares das vítimas do acidente também se mobilizam para a criação de um segundo memorial. Em uma rotatória próxima ao Aeroporto Salgado Filho, de onde saiu o voo JJ3054, já foram plantadas 199 árvores. O local ficou conhecido como Largo da Vida. 

A Associação de Familiares tenta agora a aprovação para a instalação de um monumento com imagens de 199 estrelas que representarão as vítimas, mas não há previsão para que a obra seja implantada. “Nosso intuito é ter um memorial em São Paulo e outro em Porto Alegre para que as vítimas desse acidente sejam sempre lembradas e homenageadas”, diz Scott.

Assista as reportagens:

Vítímas do acidente com o avião da Tam serão homenageadas.

Porto Alegre tem dia de homenagens às vítimas do acidente aéreo da Tam.

Psiquiatra fala sobre a superação da perda de entes queridos.

DEPOIMENTOS

G1 entrevistou familiares de vítimas da tragédia. Pais, filhos, irmãos, mulheres e maridos relataram os momentos de desespero após a descoberta do episódio e falaram da trajetória de cinco anos de superação e reconstruções de sonhos.
VÍTIMA:PARENTES RELEMBRAM:

Thaís Volpi Scott (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Thaís Volpi Scott
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Nós tínhamos mudado de São Paulo para São Leopoldo havia pouco tempo, em busca de qualidade de vida. E de repente aconteceu isso. A perda da Thaís, com só 14 anos, tirou o nosso chão. Tivemos que começar tudo do zero, de novo, e com essa experiência você começa a considerar como a vida é passageira.

“Quando o IML identificou minha filha, fiz questão de ver quanto da minha filha havia sido identificado. Foi muito difícil. Ela poderia ser enterrada em uma caixa de sapatos. Não se tinha identificado todos os fragmentos dela. Então, para mim, a maior parte da minha filha ficou naquele terreno, ela partiu dali para uma vida espiritual.

“Nós tivemos altos e baixos nesses cinco anos, como todas as famílias. Em um primeiro momento achamos que não conseguiríamos superar, mas decidimos começar outra vez. A Thaís era nossa filha única e decidimos ter mais um filho. Acabamos tendo gêmeos. Cada família achou ou está procurando a forma de reinventar a vida."


Dario Scott,
pai de Thaís Volpi Scott

Rogério Sato (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Rogério Sato
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Eu já não via meu irmão havia dois anos na data do acidente. Morava no Japão para estudar e ele era meu referencial masculino. Havíamos nos falado no domingo antes do acidente e conversamos muito naquele dia, de um jeito que não costumávamos fazer. Ele pretendia se casar, contou dos planos, e na hora de se despedir ele me mandou um beijo. Não era algo costumeiro e eu nunca vou esquecer.

“Soube do acidente pela internet, mas só fui ter noção da gravidade do acidente quando minha irmã me ligou. Eu voltei na hora e nunca mais voltei para o Japão. Eu não sabia para onde correr. Antes de identificar o corpo do Rogério fomos ao IML e conseguimos achar pertences dele. Eu entrei na sala e em meio a diversos pertences queimados a única coisa colorida era uma foto do meu sobrinho. Foi desesperador ver que ele realmente estava naquele avião. Eu não conseguia falar ‘o Rogério morreu’.

“Desde então foram quase quatro anos em tratamento psicológico. Eu senti muito medo de assumir coisas burocráticas que eu nunca tinha pensado em fazer. Minha irmã estava também em depressão e só eu poderia resolver. Nesses anos a nossa família mudou muito, conseguimos ficar mais próximos, mas foram cinco anos de muita emoção e saudade."


Carlos Eduardo Sato,
irmão de Rogério Sato

Fernando Antônio Laroque Oliveira (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Fernando Antônio Laroque Oliveira Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação


Apesar de meu pai viajar muito ele sempre foi muito presente. Ligava todos os dias e quando ele vinha era uma alegria. Às vezes penso que Deus levou meu pai, mas tive a oportunidade de ter um bom pai. Ele passou quatro dias antes do acidente com a gente, comendo bem, fizemos refeições juntos, foi muito especial. Parece que foi uma despedida.

“Receber a notícia da perda de um pai é uma experiência inexplicável. Some o chão, a vida para. A cada nova lista que chegava tínhamos uma esperança de tê-lo vivo e quando o corpo foi identificado a sensação foi muito estranha. Alívio por poder sepultá-lo, mas desespero por ter perdido a esperança de vez.

“De lá para cá mudou tudo. Eu tinha 15 anos e coisas que parecem banais eu não pude compartilhar com meu pai. Queria levá-lo para dar uma volta de carro e me corrigir quando tirei a carta, queria ter celebrado com ele minha formatura, a escolha do meu curso. Dói muito. Nenhum momento de felicidade é 100% feliz."

Renata Vinholes Oliveira,
filha de Fernando Antônio Laroque Oliveira



Mário Gomes, empresário gaucho de 49 anos (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)Mário Gomes, empresário gaucho de 49 anos 
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

No dia 15 de julho daquele ano o Mário fez um almoço com todos os irmãos. Éramos sete, e nos reunimos sem objetivo aparente, mas ele contou que iria morar em São Paulo. Queria uma casa em uma vila bem bonita. Planejava se mudar para São Paulo e quis o destino que encerrasse a vida nessa cidade.

“O acidente foi o meu WTC [World Trade Center] pessoal. Vou me lembrar sempre de como e quando ocorreu. Eu estava trabalhando em casa em Porto Alegre e quando olhei para a TV apareceu a cena. Eu gelei. Em poucos segundos foi confirmado o número de voo. Ficamos horas ligando para o celular dele e só dava caixa postal. Só tivemos certeza de que ele estava lá quando leram a lista de vítimas, já de madrugada.

“Essa tragédia mudou a vida de todo mundo. É horrível perder alguém, mas há muitas formas de perder alguém. É ainda pior quando essa perda ocorre em horário nobre, ao vivo, pela televisão. Passamos por todas as fases. Negação, revolta, aceitação e o luto, que nunca passa."

Roberto Corrêa Gomes
irmão de Mário Gomes
Alejandro Camozzi


Ele viaja a trabalho, voltando de Porto Alegre e tinha 32 anos. Nossa filha Júlia tinha 1 ano e a chegada dela havia sido muito planejada. Muito desejada. Por isso até tínhamos acabado de mudar para uma nova casa.

“Foi a coisa mais difícil que aconteceu na minha vida. Acordar no dia seguinte foi uma experiência que eu não saberia explicar. Eu não conseguia voltar para nossa casa, que tínhamos acabado de construir. Nunca esqueci a cena do avião pegando fogo. Tinha esperança que alguém iria tirá-los de lá.

“Estou tentando reconstruir a vida. Pela minha filha, que não teve culpa. Esse não era o plano que nós tínhamos para ela. Não refiz a minha vida. Não sei se terei outro dia amor por outra pessoa. São muitas recordações."

Karin Mohr,
esposa de Alejandro Camozzi

Douglas Henrique Teixeira
“O Douglas trabalhava na empresa do meu irmão, em Barueri, e tinha ido entregar uma proposta. Era meu caçula. A coisa mais linda, por dentro e por fora.

“Eu estava na minha sala vendo a novela quando entrou a chamada sobre o acidente. As informações eram todas controversas. Na hora eu fiquei agoniada e liguei para o meu filho mais velho, mas a confirmação mesmo veio apenas com a lista. Quando acabaram as esperanças. Meu marido só ficou sabendo no dia seguinte.

“Eu não fico sem antidepressivos. Já tomava na época do acidente por um problema, e depois disso parece que estou em um pesadelo. Eu ainda acho que não vivi nada disso. Eu não absorvo. Parece que vivo à beira de um precipício."
Maria Estela Outor Teixeira,
mãe de Douglas Henrique Teixeira

Rebeca Haddad
A Rebeca estava indo de férias para São Paulo, em sua primeira viagem sozinha com uma amiga. Ela me ligou no aeroporto praticamente embarcando, e eu estava no trabalho. Ela agradeceu pela viagem, estava bastante contente. Foi para se despedir.

“Acompanhamos o noticiário pela televisão e quando entrou a notícia não sabiam bem do que se trava. Demoramos a acreditar que ela estivesse mesmo nesse vôo.

“Esses foram anos de reconstrução, retomada de projetos, tentativa de voltar à normalidade, até mesmo retomar a rotina de trabalho. Tudo ficou parado, suspenso durante cerca de dois anos até as causas do acidente se esclarecessem. Mesmo assim ainda dói muito."
Christophe Haddad
pai de Rebeca Haddad
Amoreira é referência para familiares; ele permaneceu de pé após incêndio e desabamento de estrutura (Foto: Ardilhes Moreira/G1)
Amoreira é referência: ela permaneceu de pé após colisão e incêndio
Foto: Ardilhes Moreira/G1

Famílias de vítimas reconstroem a vida cinco anos após acidente da TAM


Ana e Dario perderam a filha na tragédia, mas decidiram ser pais de novo.

Parentes das vítimas do voo JJ3054 contam histórias de superação.

Ana e Dario Scott com os filhos Tomas e Anna, de 1 ano e 10 meses - Foto: Arquivo Pessoal

Um encontro dos integrantes da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ3054 (Afavitam) - tragédia que completa cinco anos nesta terça-feira (17) - é também a reunião de uma grande família, com muitos abraços e sorrisos. O grupo que se uniu por conta da dor permanece junto pela amizade, na esperança e na luta por melhorias no sistema aéreo brasileiro. Assim, é impossível não falar de superação pessoal.

Todos enfrentaram momentos de desalento e extremo sofrimento, especialmente nos primeiros meses após o trágico acidente com a aeronave que saiu de Porto Alegre e explodiu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, mas buscaram forças para seguir em frente. Para eles, não há segredos para reencontrar a alegria de viver. Não são propriamente histórias com final feliz, porque nada será esquecido ou encerrado, mas são lições de recomeço.

Construindo novas memórias 

O casal de professores universitários Dario e Ana Sílvia Scott, de São Leopoldo, perdeu a única filha na tragédia, Thaís, que tinha 14 anos. Na ocasião, cada um enfrentou a dor a seu modo: ela mergulhando no trabalho, ele encabeçando os primeiros movimentos da Afavitam, da qual se tornou presidente. Em 2009, eles finalmente conseguiram realizar uma cerimônia para cremar o corpo da menina. "Foi como fechar um ciclo", diz Ana Sílvia. A partir de então, ambos voltaram a pensar em aumentar a família. 

Gêmeos trouxeram nova perspectiva à vida do casal - Foto: Arquivo Pessoal

De fato, pouco tempo se passou entre o momento simbólico e o nascimento dos gêmeos Tomas e Anna, hoje com 1 ano e 10 meses. "Voltamos a ter um futuro", conta Ana Sílvia, que aos 53 anos passou por um processo de fertilização. "Se na época do acidente alguém dissesse que em 5 anos a minha vida estaria como está hoje, eu não acreditaria. Eu não tinha perspectiva nenhuma", recorda. 

Dario, 48, lembra emocionado que Thaís sempre pedia irmãos. "Ela dizia que queria ser 'tia', mas nunca esteve nos nossos planos. Tudo mudou depois da tragédia", lembra ele. "Filhos são como um banco de amor, no qual você vai depositando todo seu sentimento. Quando lhe tiram isso, o mundo desaba. Estamos tendo uma nova chance, fomos abençoados." 

Agora, entre os quadros espalhados pela casa dos Scott, as fotos de Thaís se misturam às dos pequenos, para que eles conheçam a história da irmã mais velha. "O que vivemos com a nossa filha foi maravilhoso e nunca será esquecido, mas não a teremos de volta. Foi preciso se desprender daquela vida e começar a construir novas memórias", avalia Ana Sílvia.

Sem deixar a peteca cair

O choro ainda vem fácil para a dona de casa Joice Vinholes Oliveira, 53 anos, de São Leopoldo, ao lembrar da noite do acidente. Naquele 17 de julho de 2007, ela perdeu o marido, Fernando Antônio Oliveira, e todos os planos que faziam juntos. "Nós parecíamos um casal de jovenzinhos, cheio de sonhos", conta ela. Mas atualmente as lágrimas de tristeza se misturam às de alívio por ter se curado de um câncer de mama, diagnosticado pouco tempo depois da tragédia. 

Fragilizada pela tragédia, Joice Oliveira conseguiu vencer câncer de mama
Foto: Roberta Lemes/G1

"Quando recebi o resultado, após fazer exames de rotina, me recusei a aceitar, dizia que não era meu, que tinham se enganado. Eu estava muito revoltada", relembra. Na ocasião, ainda extremamente fragilizada pela perda do homem com o qual foi casada durante três décadas, ela se entregou à tristeza profunda. "Chorei durante muito tempo e quando cheguei ao fundo do poço, decidi que precisava subir de volta. Pela memória do marido incrível que eu tive e pelas nossas filhas", diz ela que é mãe de Renata e Fernanda, de 20 e 22 anos. 

Joice ainda precisa ir regularmente ao médico e tomar alguns remédios, mas a pior parte do tratamento contra a doença já passou. "Não vou desistir. Meu marido sempre dizia que me admirava por nunca deixar a peteca cair, então não posso decepcioná-lo. Sei que ele está em um bom lugar olhando por nós." 

Dor e alegria na mesma medida

A felicidade de um nascimento contrastando com a dor de uma perda. Esse foi o paradoxo na vida de Renato e Denise Machado, filho e nora da aposentada Sônia Maria Machado, uma das sete integrantes do grupo Tricoteiras que estavam entre os passageiros da aeronave da TAM. Dois dias antes do trágico acidente, Denise deu à luz Thomas, em Porto Alegre, primeiro herdeiro do casal e também primeiro neto de Sônia. "Na véspera da viagem para São Paulo, ela esteve na maternidade, foi quando tiramos a única foto que temos dela com o neto", recorda Denise.

Denise e o pequeno Thomas, fonte de alegria e força para a família Machado 
Foto: Roberta Lemes/G1

Para ela, que sempre foi muito próxima da sogra, e para Renato, o nascimento de Thomas foi fundamental no processo de superação da perda. "Eu via a dor e a alegria do meu marido e dividia com ele aqueles sentimentos contraditórios. Isso nos uniu ainda mais, o que foi importante para passarmos pelo período mais crítico. A pessoa nunca sabe a força que tem até que acontece uma coisa dessas e a gente tem que seguir em frente." 

Acidente da TAM completa 5 anos sem julgamento de denunciados

Três respondem a processo na Justiça, mas não há previsão de conclusão.

Tragédia causou a morte de 199 pessoas em 17 de julho de 2007.

Cinco anos depois da tragédia que matou 199 pessoas, nenhum dos denunciados pelo acidente com o Airbus A320 da TAM foi julgado. Enquanto o local exato do impacto foi transformado em uma praça e o aeroporto sofreu mudanças pontuais em rotinas da operação, parentes das vítimas ainda aguardam a conclusão do processo.


As causas do acidente foram investigadas pela Polícia Civil, a Polícia Federal (PF) e pelo Cenipa. Apesar de a Polícia Civil ter apontado 11 responsáveis pela tragédia, o relatório final da PF enviado à 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo não trouxe nenhum indiciamento. Ele aponta que o acidente teria sido causado por erro dos pilotos. No momento do acidente, chovia e o A320 da TAM, estava com um de seus reversos (parte de seu sistema de freio) desativado.


Os pilotos não conseguiram parar o Airbus, que atravessou a pista e foi bater em um prédio do outro lado da Avenida Washington Luís. A pista do aeroporto havia sido reformada e liberada havia 20 dias sem o grooving - ranhuras feitas para ajudar a frear os aviões. Ao fim das investigações, entre críticas de familiares de vítimas sobre as conclusões da PF, o Ministério Público (MP) decidiu denunciar três pessoas por atentado contra a segurança de transporte aéreo: Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, à época diretor de Segurança de Voo da TAM; Alberto Fajerman, que era vice-presidente de Operações da TAM; e Denise Maria Ayres Abreu, então diretora da Anac (Veja abaixo as acusações).


De acordo com a Justiça Federal de São Paulo, a denúncia do MP foi aceita e os réus foram citados e intimados a apresentar suas defesas prévias, por escrito. Ainda segundo a Justiça, os réus já apresentaram esses documentos e aguardam decisão do juiz, que poderá absolvê-los sumariamente ou seguir com o processo e designar audiência para ouvir os réus e as testemunhas. Não há previsão para essa decisão do juiz.

Denunciados e acusações

Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, diretor de Segurança de Voo da TAM; Alberto Fajerman, vice-presidente de Operações da TAM

Segundo o procurador, eles tinham conhecimento “das péssimas condições de atrito e frenagem da pista principal do aeroporto de Congonhas” e não teriam tomado providências para que os pousos fossem redirecionados para outros aeroportos, em condições de pista molhada.

A denúncia também afirma que eles não divulgaram, a partir de janeiro de 2007, “as mudanças de procedimento de operação com o reversor desativado (pinado) do Airbus-320”.

Denise Maria Ayres Abreu, então diretora da Anac

O MPF considerou que a então diretora da Anac, Denise Abreu, “agiu com imprudência” ao liberar a pista do Aeroporto de Congonhas, a partir de 29 de junho de 2007, “sem a realização do serviço de 'grooving’ e sem realizar formalmente uma inspeção, a fim de atestar sua condição operacional em conformidade com os padrões de segurança aeronáutica”.

Expectativas e espera

“Nossa expectativa é que o juiz dê parecer positivo sobre o julgamento para que os culpados sejam punidos. A denúncia foi baseada em diversos laudos policiais, acompanhei de perto as investigações e há depoimentos de testemunhas que atestam de quem é a culpa pelo acidente”, diz o procurador da República em São Paulo, Rodrigo de Grandis, que ofereceu a denúncia à Justiça em julho de 2011.

Se condenados, os réus poderão ser presos, mas respondem em liberdade. “Esse é um processo com um grau de dificuldade muito grande por envolver inúmeras questões técnicas. Um acidente dessa proporção envolve uma enorme cadeia de responsabilidades, até porque os acidentes não ocorrem por um ou dois motivos. Há sempre uma série de fatores e de pessoas”, afirma ao G1 o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo Mário Luiz Sarrubbo. À época do acidente Sarrubbo atuava como promotor de Justiça Criminal.

Para o advogado de defesa de Denise Maria Ayres Abreu, Roberto Podval, a ex-diretora da Anac não tem qualquer responsabilidade pelo acidente. "Ela não tem nenhuma relação com o acidente. Seu trabalho na Anac era meramente jurídico, sem nenhuma ligação com segurança de voo. Achamos estranho que ela tenha sido responsabilizada", disse.

O mesmo argumento é usado pelo advogado de defesa de Alberto Fajerman e Marco Aurélio Castro. "Nós negamos que eles tenham agido com negligência. Eles não tiveram qualquer responsabilidade sobre o acidente. Para mim, o inquérito é carente de elementos que sustentem a acusação", afirmou o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira.

O procurador Rodrigo de Grandis explica que, juridicamente, existe a possibilidade de o processo ser arquivado. “O juiz pode reconsiderar a decisão do recebimento da denúncia, mas não acredito que isso vá acontecer. Além disso, o prazo mínimo para a prescrição é de 4 anos. Como a denúncia foi feita em 2011, o juiz tem mais três anos para dar sua sentença.”

O advogado que representa os familiares das vítimas, Ronaldo Marzagão, espera a breve solução do caso. “Nós esperamos que esse processo continue e que se faça justiça. Esse processo é didático, porque vai mostrar que as autoridades têm que responder por eventuais omissões. Para mim, o acidente não ocorreu quando o avião tocou o solo, mas quando o pouso foi autorizado.”

Indenizações

Em cinco anos, a TAM firmou acordos de indenização com 193 das 199 famílias de vítimas da tragédia. A informação foi passada pela companhia aérea ao G1 em um resumo de assistências prestadas aos familiares consolidado em julho de 2011. A empresa afirma que o documento é o mais atual disponível com ações sobre o acidente, e não divulga detalhes sobre os casos em que o acordo não ocorreu.

A Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (Afavitam) diz que também não disponibiliza informações referentes a indenizações já que cada vítima teve seu caso analisado individualmente junto à companhia aérea.

“A única coisa que podemos garantir é que as indenizações não mudaram o status de vida de nenhuma das famílias. Tem gente que perdeu todos aqueles que amava e não existe indenização que pague isso. Quanto vale um filho, o amor da vida da gente, ou um pedaço dessa pessoa como uma mão, um fêmur? Não tem preço. Discutir isso [a indenização] foi uma das piores experiências que tive na vida”, diz Roberto Corrêa Gomes, irmão da vítima Mário Gomes e assessor de imprensa voluntário da Afavitam.

Mudanças em Congonhas

De 2007 para cá, diversas recomendações de segurança para operações em Congonhas foram adotadas por órgãos de controle da aviação nacional e pelas empresas aéreas. As medidas, no entanto, são consideradas insuficientes por aeronautas, que pedem revisão das normas de funcionamento do aeroporto com chuva e colocação de concreto poroso nas laterais da pista.


Para o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), houve evolução pontual nos critérios de segurança de voo. O diretor de segurança da entidade, Carlos Camacho, destaca com fator positivo a redução no número de slots (movimentos de pousos ou decolagens), que passou de 38 para 34 (30 para aviação comercial e quatro executivos) em Congonhas. Antes do acidente, a torre de controle autorizava um número variável de slots, sempre que havia um espaço entre as operações, o que não é mais permitido.

“A redução dos slots aumenta o distanciamento entre as aeronaves. A operação apenas da pista principal para aviões de médio porte também é um avanço, assim como a implantação do 'grooving', que são linhas transversais [ranhuras para aumentar o atrito e contribuir para que a aeronave pare]. Mas Congonhas é um aeroporto limitado e crítico, que não tem área de escape lateral ou longitudinal. Além disso, ele tem toda a área de aproximação comprometida. Para Congonhas o ideal é: choveu, parou”, destaca.

A interrupção da operação em dias de chuva chegou a acontecer logo depois do acidente, o que não ocorre mais obrigatoriamente. “Hoje, a operação só é interrompida se houver 3 milímetros de água na pista, o que é difícil de acontecer, porque existe um bom sistema de escoamento. Para se ter 3 milímetros, tem que chover muito”, afirmou. A chuva, além de aumentar o risco de derrapagem, também tem influência negativa sobre o preparo psicológico do piloto. “O piloto está consciente do risco o tempo todo. Se me perguntarem: a pista contribuiu para o acidente da Tam? Ficou provado que sim, mas a chuva também”, declarou.

Outra medida fundamental para incrementar a segurança na opinião de Camacho seria a colocação de concreto poroso nas laterais da pista no lugar da grama. A função dessa área seria reter o avião caso ele saia da pista. “A implantação disso é muito cara. Eles nem quiseram discutir. Se fosse implantada, a lateral poderia servir como área de escape”, observa.

Desde 2007, também observou-se em Congonhas uma substituição dos modelos Fokker 100 e ATR por aeronaves maiores. Atualmente, a frota que opera em Congonhas é, em sua maioria, de Boeings 737-800, que possuem 187 assentos, contra os cerca de cem assentos do Fokker. Com isso, apesar da redução no número de voos, o número de passageiros que foi 7.662.698 entre janeiro e maio de 2007, caiu para 6.416.337 no mesmo período deste ano. “Se você troca 40 aviões de pequeno porte por 11 de maior porte, você diminui o fluxo de aeronaves e mantém o de passageiros, o que atende aos interesses das companhias aéreas”, ressalta Camacho.

À época do acidente, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) produziu um relatório com recomendações para a Airbus, TAM, outras companhias aéreas, para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e para o próprio Cenipa. A maior parte das recomendações do relatório produzido pelos militares da Aeronáutica foi para a Anac - para quem 33 mudanças foram pedidas - e à TAM, que recebeu pedido de 23 mudanças. O Cenipa pedia, principalmente, reforço em treinamento da tripulação, cuidados em operações de pousos e decolagens, fiscalização e monitoramento de condições de aeronaves e pistas.


A Anac afirmou que, nesses cinco anos, foi feita a revisão de todos os regulamentos de aviação e disse que, no Aeroporto de Congonhas, houve redução nas autorizações de pousos e decolagens para a aviação regular e a determinação de limites para a aviação em geral. Também houve, segundo a agência, a implantação de "grooving" e a intensificação da fiscalização nas companhias aéreas. Outra mudança importante foi a publicação, em 2008, da Instrução de Aviação Civil, que determina os procedimentos e requisitos para a operação no aeroporto.

A Airbus também detalhou, em nota, que todas as alterações recomendadas pelo Cenipa foram cumpridas, inclusive com a atualização de procedimentos em Manuais de Voo da Tripulação.

Procuradas pelo G1, a TAM e a Infraero também afirmaram que todas as mudanças solicitadas foram feitas, mas não detalharam as medidas tomadas desde 2007 para garantir a segurança dos passageiros e tripulantes. O Cenipa também informou ter cumprido as solicitações.





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